domingo, 29 de dezembro de 2013

Um Celso que não nos furtou a dignidade!!!


Ainda durante esta semana, surpreendeu-me um pequeno comentário de um renomado colunista da imprensa local. Tão pequeno quanto inapropriado, para não dizer ingênuo. Ingênuo pela ignorância, parece-me, sobre a personalidade tratada. O colunista criticava o batismo da "Via-Mangue" com o nome do notável economista, acadêmico e ex-ministro Celso Furtado, uma vez que não contribuíra este em nada para o bem do Recife. Realmente, pois ao invés de contribuir tão somente para o bem do Recife, as idéias do respeitável economista foram mais além: elas pensaram em um Nordeste melhor, livre das pressões oligárquicas. Foi assim com planos mais eficazes contra a seca - antes ações resumidas à inócua prática da açudagem, ideias que inspiraram JK com a Sudene - demonstrando em seus estudos e projetos como essa diretriz equivocada na política para a região deixava o Nordeste em situação cada vez mais desvantajosa em relação ao Centro-Sul. O nosso Diário de Pernambuco foi um dos principais periódicos a saudar essa iniciativa, nos idos de fevereiro de 1959. Uma das mais brilhantes especialistas de desenvolvimento da Universidade brasileira, Dra. Tânia Bacelar, também ainda pensa assim. Como vê, nobre colunista, suas palavras parecem voto vencido!

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

VÍCIOS PÚBLICOS, COSTUMES PRIVADOS


O velho 2013 já amortece, se acomodando no ataúde do tempo. Foram-lhe muitas, as ferroadas do poder. Enquanto bebe o defunto, o país busca resolver-se por si só; necessário aviltar a própria espécie para renunciar aos seus vícios: viva a "Revolução dos Coxinhas"! Não podemos mais confundir vícios e costumes, estes um tesouro que se deve conservar e que não mais se recupera quando se o perdeu, para evocar Rousseau em defesa dessa contenda.
Filho de uma geografia impudicícia, nesse lugar "do lado de baixo do Equador", esta parte do continente também arqueja por moral. Senão, vejamos algumas pérolas dos vícios públicos reveladas em um espaço de pouco mais que vinte e quatro horas, no momento em que escrevo este artigo. Quando se alardeia a fragilidade do Sistema Penitenciário no país, eis que, de dentro da Papuda, ainda que não por celular, um apenado ficha-suja comanda sua trupe da base do poder, como anuncia a imprensa:"(...) da prisão, ele pensa e repensa as estratégias para as próximas eleições". Falamos do líder do Partido da República (PR), Valdemar Costa Neto, que desde o já enterrado 2011 exibe suas imiscuidades republicanas, em troca da sustentação do poder central.
Por outro lado, se a Saúde vai de mal a pior, a FAB, numa viagem "sigilosa" ao Recife, como sugeriu o  espartano beneficiado, não relaxa sua prontidão a Renan Calheiros, Presidente do Senado - uma Gerúsia licurga? - auxiliando-o no tratamento de uma alopecia, como se sua queda de cabelos pusesse em perigo a própria vida. Pior, agrava ainda mais a nossa! Useiro e vezeiro dessas artimanhas, dispõe-se à reposição dos custos ao erário. Inocência do paciente, a reposição do prejuízo público não livra do crime o seu autor.
Finalmente, no calor da discussão sobre a intolerância nas leis de trânsito, nó cego dos males urbanos, a presidente Dilma Roussef infringe Resolução 277 do Contran, transportando no banco de trás de um veículo seu netinho de 10 anos de idade, desprotegido de qualquer sistema de retenção. É infração gravíssima (e quem disse que as anteriores não o são?) , sete pontos na carteira de habilitação e apreensão do veículo. Livrou-se com um simples pedido de desculpa. O que seria de nós, se todo crime (independente do Código que o registre) fosse sanado por um pedido de desculpa? Um crime leve, talvez, mas cometido pela Mandatária do Poder Executivo, justamente aquele a quem cabe cumprir as leis e fazer cumpri-las. Ah, pobre Montesquieu...pobre Grotius, com sua hipótese "impiíssima" de direito natural, fé e racionalidade...pobre Jesus, que mal renasce e já o assassinamos, novamente!
Invoquemos os Arcanjos, porque a batalha das urnas se aproxima e 2014 há de ser melhor.
Tim-tim!!!...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Um filho do Brasil

A postagem que segue não é de minha autoria, mas me orgulha muito mais do que se assim a fosse. É a crítica (na íntegra, postada em sua página do facebook) de uma criança de onze anos de idade, cuja inocência não consegue apagar a sua visão sobre um país tão desavergonhado. Tenho o orgulho de apresentá-lo como meu filho, PEDRO.
Transcrevo-a, na íntegra, respeitando todas as suas naturais inconsistências gramaticais:
Na sexta-feira passada assistindo [a um programa de TV] com a minha mãe, vi uma reportagem muito interessante e também muito importante para você ter nocão do que está sendo passando na saúde pública nos hospitais do Brasil que por conhecidência é o país que vai receber o maior campeonato de futebol do mundo, a COPA DO MUNDO,e enquanto esses presidentes, governadores e etc...Estão se preucupando com novos estádios no Brasil eles deveriam olhar mais para a saúde pública , que esta faltando cama para os adoentados se ospedarem e terminam sem fazer a cirúrgia e ficam largados pelos corredores dos hospitais pela falta de médicos e também pela falta de quarto para ficarem, agora a pouco o meu pai se operou de apendicite e quando fui visitá-lo no hospital vi o que se passa na saúde pública no Brasil e parei para pensar 'meu Deus será se os estádios para a copa são mais importantes que a saúde pública'? e é claro que eu cheguei a conclusão que não, eu só queria avisar que eu estou muito arrependido por esse comportamento desse país tão famoso no mundo e está passando por uma situação dessas, e não é só sobre a saúde pública mas também sobre várias outras coisas!!!

ACORDA BRASIL

O emissário latino

A revista Time aponta o papa Francisco como uma das mais marcantes personalidades do ano. Na verdade, este um ano muito fraco de personalidades e muito rico em canalhices, em barbaridades, seja o ao Norte ou Sul do equador. Não acompanho a Time e nem falo ou leio o inglês, mas não há como discordar da escolha. Não admira que nos EEUU o sumo pontífice seja tachado de marxista - não se considerando afagos e apertos de mãos de líderes ideologistas...mas, não seria, igualmente, o capitalismo uma tendência a qual nos forçam goela abaixo, sob todas as formas de violência? O Direito Natural cabe ao homem, como criatura, e somente a ele cabe as suas opções. Francisco veio "do fim do mundo", para acabar com o luxo e a arrogância "em nome de Deus". Ponto para o Padre. Se Deus é brasileiro, não vejo por que não caber latinidade a Marx, e por muitas razões. Como o de Assis, o Chico argentino se despe do que não serve mais ao cristão verdadeiro (se é que algum dia já serviu...), não ao fariseu sorrateiro. Lembro, em saudação ao pontífice, uma máxima de seu mentor, São Francisco de Assis:
"Cuide bem de sua vida, afinal ela pode ser o único evangelho que os outros leem!".

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Matriz na praça das almas


Santo Antonio,
Matriz das almas perdidas.
Os braços da Nova e Imperatriz
mais almas carregam para lá
e na pracinha o espetáculo
é de arrepiar.
Os relógios chinfrins 
marcam apenas alguns minutos,o que falta para atingir o milagre.
São tantos os pedidos,
são mais ainda os perdidos.
Santo Antonio,
Matriz das almas perdidas
que os camelôs vendem barato
só para não perder todo o tempo.
As moças do passado vendem o corpo
decadente
e a Matriz assiste, estática, imponente.
A salvação é para as almas,
azar da gente.

terça-feira, 23 de julho de 2013

O mar está pra peixe...

Ataque de tubarão!!!!
Esta notícia não é mais novidade, em boa parte de nossa costa pernambucana, infelizmente. Também não cabe aqui, neste exato espaço, considerar motivos/consequências. O que é fato é que uma das questões mais polêmicas que a SDS tem sabido levar com parcimônia e atenção é o cuidado com o Ginglymostoma cirratum (o "tubarão-lixa") e o Galeocerdo cuvier (o tal "tigre") em algumas de nossas praias. Há anos vêm sendo monitorados pelo Sinuelo, barco de pesquisas do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE, hoje tendo à frente as Dras. Rosânela Lessa (oceanóloga da UFRPE) e Claudia Mattos (Secretária Executiva do CEMIT-SDS), entre outros representantes da sociedade pública e civil. São factuais, indiscutivelmente, os ataques? Sim, não há dúvidas! Mas, evidentes, também, são os atos de VANDALISMO promovidos pelo "Homo sapiens sapiens" no meio-ambiente sobre o qual reinam as especimens pré-históricas, até. Não há como negar as explícitas placas advertícias sobre o perigo que é minutamente negligenciado por surfistas birutas ou turistas aventureiros - o que não quero afirmar seja o caso lamentável da jovem Bruna Gobbi. Extremamente lamentável! Mas a placa estava lá!!!!
Há rumores de que os banhistas - a vítima e outros, vizinhos - estavam com "água pela cintura". Vídeos youtube não demonstram isso; pelo contrário, ondas fortes cobriam e até derrubavam os banhistas em área de ataque. Outro fato notório foi a pronta disposição dos salva-vidas, bombeiros valorosos que ali estão expondo as suas em troca de outras, displicentes (mais uma vez, não necessariamente o caso da Bruna): mas há de se convir que a falta de cuidado é o principal motor das tragédias ocorridas - e de outras anunciadas (valha-nos Deus!!!). Isso para não ter que mencionar a discrepância de grupos radicais que – pasmem!!! – sugerem “extinguir” a espécie em troca do ócio do surf.
Corre, a boca frouxa, que, dia desses, houve até uma queixa ao Instituto Oceanográfico da UFRPE.
 "_Alô, é do Instituto?..."
_"Sim" - a voz, solícita, do outro lado da linha.
_"Pois bem – reverberou a voz veranista: quero delatar que estou, neste exato momento, daqui, de meu apartamento panorâmico - na praia de Boa Viagem - a observar, via binóculo, um tubarão no mar. Será que isso é possível??".

A voz, solícita e pacata, do outro lado da linha, respondeu:

_"Sim, senhor, é bem possível. Assustador seria se o senhor comunicasse que um tubarão acabara de atravessar a Av. Beira Mar em dirigir-se-ia à Av. Cons. Aguiar...".

Enfim, ficam aqui registradas três alocuções:

1 - Parabéns à bravura dos bombeiros-mar;

2 - Respeitem a Natureza, assim como desejam que Ela não lhes prejudiquem;

3 - "Em terra de cego, quem tem um olho é Rei" - e esse "olho" deve saber LER!

P.S.: Lamento pela Bruna. Minhas sinceras condolências à família Gobbi.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A esperança vem do Dom

Confesso que os acontecidos das últimas semanas vêm me deixando meio que baratinado, na dúvida de que esteja sofrendo de uma síndrome labiríntica ou porque seja eu mesmo um caso perdido, a contrariar meu psicanalista.
Diante dessa observação, fico na dúvida se devo continuar lendo os jornais – respaldo indispensável para minha profissão – ou abandono de vez a razão e me entrego à demência dos indigentes que perambulam livremente pelas ruas, sem censuras, sem compromissos, sem hipocrisia. “Os doidinhos de Deus”, como já afirmou o sábio Dom Hélder. Não sei, mas espero que o tempo descubra acertadamente a trilha correta nessa bifurcação funcional, pois lendo alguns periódicos (que poderiam passar bons períodos sem nada relatar e ainda assim estaríamos atualizadíssimos diante da mesmice brasileira), deparo-me com uma manchete uníssona, parece-me que suporte para a atual Jornada da Juventude, quando o Sumo Pontífice vem ao encontro daqueles que gemem e choram neste vale de lágrimas, pobres mortais que somos: “O EXÉRCITO PROMETE BARRAR MANIFESTAÇÕES ÀS VISTAS DO PAPA”, proibindo, inclusive, exposição de cartazes e palavras de ordem.
Ora, pois não foi a própria CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) uma das principais organizadoras – e motor –  do Grito dos Excluídos em pleno 7 de setembro passado? Além disso, no último dia 9 deste mês o próprio secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, recebeu presidentes de partidos políticos na sede da Conferência, em Brasília, para comunicar-lhes que “entende a necessidade de ampliar a participação popular e que o povo deve ser ouvido” nesse momento crucial pelo qual passamos nós em nossas exigências cívicas. E então, o Papa não deve nos ouvir? O Papa não deve VER o que se passa desavergonhadamente neste terreno estéril de moral? Somos as ovelhas desgarradas do rebanho sacrossanto, somente destinadas ao sacrifício, em expiação eterna?
O general José Abreu, coordenador de segurança da Jornada Mundial da Juventude, pelas Forças Armadas, já decretou que “vamos avaliar, no momento, lá em Guaratiba, se deixamos ou não exibir cartazes”. Ou seja, se o cacete vai comer ou não, porque o povo vai às ruas, sim, delatar ao seu maior líder religioso a patifaria que praticam nossos vilipendiosos políticos.


Dom Hélder há de nos abençoar... e que Deus perdoe o general!!!


Do regresso de não mais voltar,
suas pastoras vão pedir:
Não deixem não, que o bloco campeão,
guarde no peito a dor de não cantar.
Um bloco a mais é um sonho que se faz
o pastoril da vida singular.


http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Bloco+Ap%C3%B4is+Fum:+O+Lirismo+e+a+Ousadia+de+Momo+&ltr=B&id_perso=2000

http://euliricoeu.blogspot.com.br/2011/02/reflexoes-sobre-um-certo-bloco-lirico.html


Ruas, sítios e semáforos

Visito mais uma vez um reduto de um amigo virtual.
É um sítio (que as crianças de hoje aprenderam a chamar de “site”), mas daqueles que não têm árvores frondosas e orvalhadas, como eu lembro as que existiam em alguns quintais de velhas casas da Rua Jundiá, reminiscências de uma infância que corria na velocidade do tempo, sem freio que desse conta das trelas nem chinelas que freassem as aventuras. Jundiá, rua de sítios e jardins, árvores frondosas e cigarras cantantes sem atentarem para os reclamos das formigas, que trabalhavam incansavelmente esperando pelo inverno já anunciado. E as cigarras, nem aí!!! Queriam era cantar. Certas elas, trabalho nunca foi coisa boa.
E acho que as formigas - lacônicas, mecânicas, tropa que não saía da linha, marchando umas após outras sem perderem o prumo - acabavam por descarregar suas amarguras laboriosas sobre nós, pobres crianças sonhadoras, como o canto das cigarras.
 Enchiam-nos de ferroadas que queimavam como brasa. Outro dia - dia desses, quando ainda era menino - um coleguinha teve que expor suas partes mais íntimas em plena Avenida Rosa e Silva, bem em frente ao já sepultado Cine Coliseu. Sentado sobre o meio-fio, conversava sobre as raparigagens de menino mais velho, papel contrito do maloqueiro mais experiente a passar lições de vida aos mais novos (isto causava admiração, o sujeito ganhava o respeito do grupo...). De repente, um grito alucinante e a exposição, para fora do calção frouxo, da sua "alavanca". E seus olhos, esbugalhados, assistiam a vitória da formigona triunfante com as garras de alicate cortante bem trincadas na glande do "objeto". Uma dor e um prazer. Uma vingança e a morte repentina, a formiga esmagada pela ira do agredido. Mas o himenóptero certamente morrera com a bravura do dever cumprido...ou da tara saciada! 
Tenho uma alma retintamente encarcerada nos dias chuvosos de julho. Principalmente essas tardes me acalantam com o estridular das cigarras, reticências da infância em uma mente adulta abarrotada de penares. Aí me vem na tela do passado as atraentes poças de lama, tapete sobre os quais jogávamos sofridas partidas de futebol, os dedões dos pés estraçalhados de chutes em cheio no pedregulho oculto nas poças d’água. Minha vó, Miné, à janela, cabocla de cabelos estirados e caprichosamente dominados pela marrafa de osso da qual ela separou-se somente pela morte, olhinhos miúdos a vigiar nossos movimentos e sonosras queixas com ameças de castigos, carreiras desembaladas que acabavam nos esconderijos das moitas dos pés de colônia que perfumavam a casa da Rua Jundiá. 
Tudo eram divertimento e brincadeiras: piques de esconder, pega-pega, subir em árvores e roubar frutas do frondoso sítio do Dr. Morais Rêgo, balear indefesos passarinhos (coitadinhos!!!) com bodoques bem caprichosos na pontaria... tanta coisa que não volta mais e que nunca se repetirá. Imagens que os wi-fis vão apagando das telas da vida e que hoje são como um pano preto estirado em cada outdoor, nos quais se lê, sempre e invariavelmente, a ordem do dia: “compre, compre, compre!” 
Uma dia desses vi em um outdoor a propaganda da Palavra. Aos meus olhos, viciados em uma ideia fixa que não se apaga jamais, as letras dançavam na formação do apelo “Compre Deus, compre Deus, compre Deus! Mas compre em nossos templos, onde o produto não é pirata” (ou algum recado parecido). Meu Pai, etiquetaram-lhe um preço; afixaram-Lhe um código de barras...não mais Lho crucificam: vendem-Lhe.
Mas, voltemos à conversa mole: estou visitando, hoje, um dileto amigo, em seu sítio virtual. Sítio cujos frutos não têm sabor de goiaba, nem de pitanga, nem das romãs da casa de meu saudoso pai - outra caverna da meninice que vez por outra ilumino -  porém causam-me igualmente um prazer que retoma tempos nostálgicos, com cheiro de chuva e sabor de fruta madurinha, derrubada a vara. 
Frutos deiscentes que vão ladeando estradas saudosas sobre as quais caminho como quem experimenta, sôfrego, pela última vez, as goiabas adocicadas da rua Jundiá, doçura da infância; da avó à janela, do cágado paciente esquadrinhando cada centímetro daquela casa, que caminhava incansavelmente sem saber para onde nem porquê; da romãzeira paterna cujos frutos decoraram muitos natais. 
No sítio do Eurico, estico os braços e colho o sabor do guaraná Fratelli-Vita, que os sais da Coca-Cola raptaram e  esconderam, para sempre, sem dar a chance de um resgate porque não tem dinheiro que pague a lembrança da garrafinha que trazia o sabor inigualável da gasosa de maçã. Sabor das tardes televisivas da Tupi, que uma grandona da mídia também raptou e todo dia nos cobra o resgate, que temos de pagar em gotas de suor e sangue derramados pela tela que a TV LCD vai derramando diariamente na sala das casas. E recomenda horário próprio para crianças a partir de qualquer idade; qualquer idade é tempo de aprender com a violência, o impudor, a nudez explícita, implícita na cegueira dos vigilantes sociais. O “Programa da tia Linda”, ao qual assistia deitado sobre a mesa entalhada, de jacarandá, móveis sempre muito polidos que minha mãe mantinha como diploma de "dona-de-casa responsável e caprichosa", saudosa morada de Casa Amarela. As cadeiras, com assento e encosto de couro, talvez ainda existam por aí. A casa ainda está lá, resiste ao tempo, remendada, renovada aqui e ali... mas nada me seduz como a via antes. Das doces lembranças, somente um velho jambeiro permanece no terreno, alto e altivo, sentinela como que ainda esperando a minha volta àquela casa feliz.
Pensei que nunca acabariam, esses sonhos. Assistia à TV deitado sobre a mesa de jacarandá. Minha mãe vivia reclamando: “Menino, desce daí. Quem deita sobre a mesa é defunto”. Naquele tempo, velavam-se os mortos sobre a mesa da sala. Passei a deitar sobre o assoalho, fresquinho, com cheiro de Pinho-Sol e cera Poliflor. Assistia Rin-Tim-Tim e adorava a propaganda da laranjada Cliper, um casal de indiozinhos muito simpáticos. À noite, tomava leite Cilpe e ia pra cama dormir, cedo; no outro dia, Dona Paula – uma mestra tão eficiente quanto elegante, linda meio-senhora – me aguardava no grupo escolar Manoel Borba, prédio que chora seu abandono e me faz chorar quando avisto sua fachada, velhinha, decadente, esquecida. Paciente, cartilha de uma capa verdinha nas mãos, D. Paulo ia apresentando as fichinhas perfuradas daquele livrinho verde para ensinar-me o BÊ-A-BÁ!!!
Nunca mais deitei sobre a mesa, mas já vi passarem em todas as salas de meu pensamento muitos defuntos. As velhas e saborosas propagandas, estas, também, nunca mais as vi. Foram-se, com os mortos de minha vida. A querida mestra, D. Paula, também morreu, mas seu carinho ainda está bem vivo em cada texto que leio.
Visitar o sítio do amigo acendeu-me a chama das lembranças mais entranhadas, coisas sobre as quais achei nunca mais reviveria. O tempo...o tempo é curto para tudo...o semáforo passa rapidamente da cor vermelha para a verde e nos impele a uma onda automotora, de fumaça e buzinaço, que vai seguindo em fila quem sabe para onde, como as formigas ou o paciente cágado da Jundiá. 
O povo é gado, já disse um poeta! E suas palavras continuam ecoando per omnia saecula saeculorum.
Despedi-me das recordações com o cuidado de guardá-las a sete chaves e pra não esquecê-las jamais plantei sementes de letras neste papel.

Queira Deus o semáforo apressado permita-me um tempinho para regá-las todos os dias.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

"Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar..."

A nação brasileira dá mostras de que um novo tempo se inaugura nestas plagas, uma nova mentalidade adolescente que acorda de longa letargia, ninada nefanda dos políticos de rapina que desde os primeiros anos do século 20 fortalecem uma oligarquia que vem engordando sob a proteção dos TRÊS PODERES. Essa nova face ideológica já recebeu dos intelectuais de plantão o apelido de "a revolução dos coxinhas" (que mania tem a inteligentsia gentio de rotular movimentos...), rotulando pejorativamente a opção de uma juventude que já escolheu o melhor para si. E este melhor não inclui o velho, que é esse estelionato político que se aboletou sobre nós, golpe inclemente que os caciques do poder aplicam sobre os eleitores, pobres mortais, diuturnamente.
Pois que cresça, sim, esta onda de "coxinhas", até fundar-se uma enorme padaria onde a fome do povo possa saciar-se também na saúde, na educação, na justiça social. Só não vale mais pizza!!!
E que sejamos nós, pernambucanos, O RUGIDO DO NORTE, cicerones deste novo tempo!!!!
(Publicado em DIÁRIO DE PERNAMBUCO - domingo, 07 julho 2013. Editorial, p.B-12).

O QUE VIRÁ DAÍ???

Há algumas semanas o país passou por alguma movimentação diferente, articulações às quais duas gerações não estão acostumadas a viver, nas ruas. Poderia citar "a ver nas ruas", mas prefiro a expressão a viver nas ruas, pois a experiência, como já sabemos, a arte do fazer, não nasce do copiar, mas do vivenciar. Explodi de alegria quando alguns sonoros "professor..." me buscavam, entre a multidão, para falar comigo. Simplesmente falar. Não agradeciam nada, não elogiavam nada, não insinuavam nada...apenas cumprimentavam. E sorriam, e abraçavam! Pronto, estava ali a alquimia das aulas, algumas vezes supostamente inócuas, a semente que joguei em alguns terrenos equivocadamente áridos, mas sob os quais descobri passar uma enxurrada de água pura capaz de germinar as mais simples palavras; capaz de transformar UTOPIA em AÇÃO E REALIZAÇÃO.
Que a água continue jorrando e que as sementes sejam profícuas, abundantes, transformadoras.

PENSAR, ESCREVER E VIVER...

"Os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente do livro do mundo.
No fundo, somente os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois somente eles são entendidos de modo autêntico e completo. Pensamentos alheios, lidos, são como sobras da refeição de outra pessoa, ou como as roupas deixadas por um hóspede da casa".
(ARTUR SCHOPENHAUER, A Arte de Escrever)