segunda-feira, 29 de julho de 2013
A Matriz na praça das almas
Santo Antonio,
Matriz das almas perdidas.
Os braços da Nova e Imperatriz
mais almas carregam para lá
e na pracinha o espetáculo
é de arrepiar.
Os relógios chinfrins
marcam apenas alguns minutos,o que falta para atingir o milagre.
São tantos os pedidos,
são mais ainda os perdidos.
Santo Antonio,
Matriz das almas perdidas
que os camelôs vendem barato
só para não perder todo o tempo.
As moças do passado vendem o corpo
decadente
e a Matriz assiste, estática, imponente.
A salvação é para as almas,
azar da gente.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
terça-feira, 23 de julho de 2013
O mar está pra peixe...
Ataque de tubarão!!!!
Esta notícia não é mais novidade, em boa parte de nossa
costa pernambucana, infelizmente. Também não cabe aqui, neste exato espaço,
considerar motivos/consequências. O que é fato é que uma das questões mais
polêmicas que a SDS tem sabido levar com parcimônia e atenção é o cuidado com o
Ginglymostoma cirratum (o "tubarão-lixa") e o Galeocerdo cuvier (o
tal "tigre") em algumas de nossas praias. Há anos vêm sendo
monitorados pelo Sinuelo, barco de pesquisas do Departamento de Pesca e Aquicultura
da UFRPE, hoje tendo à frente as Dras. Rosânela Lessa (oceanóloga da UFRPE) e
Claudia Mattos (Secretária Executiva do CEMIT-SDS), entre outros representantes
da sociedade pública e civil. São factuais, indiscutivelmente, os ataques? Sim,
não há dúvidas! Mas, evidentes, também, são os atos de VANDALISMO promovidos
pelo "Homo sapiens sapiens" no meio-ambiente sobre o qual reinam as
especimens pré-históricas, até. Não há como negar as explícitas placas
advertícias sobre o perigo que é minutamente negligenciado por surfistas
birutas ou turistas aventureiros - o que não quero afirmar seja o caso
lamentável da jovem Bruna Gobbi. Extremamente lamentável! Mas a placa estava
lá!!!!
Há rumores de que os banhistas - a vítima e outros, vizinhos
- estavam com "água pela cintura". Vídeos youtube não demonstram isso; pelo contrário, ondas fortes cobriam e
até derrubavam os banhistas em área de ataque. Outro fato notório foi a pronta
disposição dos salva-vidas, bombeiros valorosos que ali estão expondo as suas
em troca de outras, displicentes (mais uma vez, não necessariamente o caso da
Bruna): mas há de se convir que a falta de cuidado é o principal motor das
tragédias ocorridas - e de outras anunciadas (valha-nos Deus!!!). Isso para não
ter que mencionar a discrepância de grupos radicais que – pasmem!!! – sugerem “extinguir”
a espécie em troca do ócio do surf.
Corre, a boca frouxa, que, dia desses, houve até uma queixa ao
Instituto Oceanográfico da UFRPE.
"_Alô, é do
Instituto?..."
_"Sim" - a voz, solícita, do outro lado da linha.
_"Pois bem – reverberou a voz veranista: quero delatar
que estou, neste exato momento, daqui, de meu apartamento panorâmico - na praia
de Boa Viagem - a observar, via binóculo, um tubarão no mar. Será que isso é
possível??".
A voz, solícita e pacata, do outro lado da linha, respondeu:
_"Sim, senhor, é bem possível. Assustador seria se o
senhor comunicasse que um tubarão acabara de atravessar a Av. Beira Mar em dirigir-se-ia
à Av. Cons. Aguiar...".
Enfim, ficam aqui registradas três alocuções:
1 - Parabéns à bravura dos bombeiros-mar;
2 - Respeitem a Natureza, assim como desejam que Ela não
lhes prejudiquem;
3 - "Em terra de cego, quem tem um olho é Rei" - e
esse "olho" deve saber LER!
P.S.: Lamento pela Bruna. Minhas sinceras condolências à
família Gobbi.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
A esperança vem do Dom
Confesso que os acontecidos das últimas semanas vêm me
deixando meio que baratinado, na dúvida de que esteja sofrendo de uma síndrome
labiríntica ou porque seja eu mesmo um caso perdido, a contrariar meu
psicanalista.
Diante dessa observação, fico na dúvida se devo continuar
lendo os jornais – respaldo indispensável para minha profissão – ou abandono de
vez a razão e me entrego à demência dos indigentes que perambulam livremente
pelas ruas, sem censuras, sem compromissos, sem hipocrisia. “Os doidinhos de
Deus”, como já afirmou o sábio Dom Hélder. Não sei, mas espero que o tempo
descubra acertadamente a trilha correta nessa bifurcação funcional, pois lendo
alguns periódicos (que poderiam passar bons períodos sem nada relatar e ainda
assim estaríamos atualizadíssimos diante da mesmice brasileira), deparo-me com
uma manchete uníssona, parece-me que suporte para a atual Jornada
da Juventude, quando o Sumo Pontífice vem ao encontro daqueles que gemem e
choram neste vale de lágrimas, pobres mortais que somos: “O EXÉRCITO PROMETE
BARRAR MANIFESTAÇÕES ÀS VISTAS DO PAPA”, proibindo, inclusive, exposição de
cartazes e palavras de ordem.
Ora, pois não foi a própria CNBB (Confederação Nacional dos Bispos
do Brasil) uma das principais organizadoras – e motor – do Grito dos Excluídos em pleno 7 de setembro
passado? Além disso, no último dia 9 deste mês o próprio secretário geral da
CNBB, dom Leonardo Steiner, recebeu presidentes de partidos políticos na sede
da Conferência, em Brasília, para comunicar-lhes que “entende a necessidade de
ampliar a participação popular e que o povo deve ser ouvido” nesse momento
crucial pelo qual passamos nós em nossas exigências cívicas. E então, o Papa
não deve nos ouvir? O Papa não deve VER o que se passa desavergonhadamente
neste terreno estéril de moral? Somos as ovelhas desgarradas do rebanho
sacrossanto, somente destinadas ao sacrifício, em expiação eterna?
O general José Abreu, coordenador de segurança da Jornada
Mundial da Juventude, pelas Forças Armadas, já decretou que “vamos avaliar, no
momento, lá em Guaratiba, se deixamos ou não exibir cartazes”. Ou seja, se o
cacete vai comer ou não, porque o povo vai às ruas, sim, delatar ao seu maior
líder religioso a patifaria que praticam nossos vilipendiosos políticos.
Dom Hélder há de nos abençoar... e que Deus perdoe o general!!!
Do regresso de não mais voltar,
suas pastoras vão pedir:
Não deixem não, que o bloco campeão,
guarde no peito a dor de não cantar.
Um bloco a mais é um sonho que se faz
o pastoril da vida singular.
http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Bloco+Ap%C3%B4is+Fum:+O+Lirismo+e+a+Ousadia+de+Momo+<r=B&id_perso=2000
http://euliricoeu.blogspot.com.br/2011/02/reflexoes-sobre-um-certo-bloco-lirico.html
Ruas, sítios e semáforos
Visito mais uma vez um reduto de um amigo virtual.
É um sítio (que as crianças de hoje aprenderam a
chamar de “site”), mas daqueles que não têm árvores frondosas e orvalhadas,
como eu lembro as que existiam em alguns quintais de velhas casas da Rua Jundiá, reminiscências de uma infância que corria na velocidade do tempo, sem freio que desse conta das trelas nem chinelas que freassem as aventuras. Jundiá, rua de sítios e jardins, árvores frondosas e cigarras cantantes sem atentarem para os reclamos das formigas, que trabalhavam incansavelmente esperando pelo inverno já anunciado. E as cigarras, nem aí!!! Queriam era cantar. Certas elas, trabalho nunca foi coisa boa.
E acho que as formigas - lacônicas, mecânicas, tropa que não saía da linha, marchando umas após outras sem perderem o prumo - acabavam por descarregar suas amarguras laboriosas sobre nós, pobres crianças sonhadoras, como o canto das cigarras.
Enchiam-nos de ferroadas que queimavam como brasa. Outro dia - dia desses, quando ainda era menino - um coleguinha teve que expor suas partes mais íntimas em plena Avenida Rosa e Silva, bem em frente ao já sepultado Cine Coliseu. Sentado sobre o meio-fio, conversava sobre as raparigagens de menino mais velho, papel contrito do maloqueiro mais experiente a passar lições de vida aos mais novos (isto causava admiração, o sujeito ganhava o respeito do grupo...). De repente, um grito alucinante e a exposição, para fora do calção frouxo, da sua "alavanca". E seus olhos, esbugalhados, assistiam a vitória da formigona triunfante com as garras de alicate cortante bem trincadas na glande do "objeto". Uma dor e um prazer. Uma vingança e a morte repentina, a formiga esmagada pela ira do agredido. Mas o himenóptero certamente morrera com a bravura do dever cumprido...ou da tara saciada!
Tenho uma alma retintamente encarcerada nos dias chuvosos de julho. Principalmente essas tardes me acalantam com o estridular das cigarras, reticências da infância em uma mente adulta abarrotada de penares. Aí me vem na tela do passado as atraentes poças de lama, tapete sobre os quais jogávamos sofridas partidas de futebol, os dedões dos pés estraçalhados de
chutes em cheio no pedregulho oculto nas poças d’água. Minha vó, Miné, à janela,
cabocla de cabelos estirados e caprichosamente dominados pela marrafa de osso
da qual ela separou-se somente pela morte, olhinhos miúdos a vigiar nossos
movimentos e sonosras queixas com ameças de castigos, carreiras desembaladas que acabavam nos esconderijos das moitas dos
pés de colônia que perfumavam a casa da Rua Jundiá.
Tudo eram divertimento e brincadeiras: piques de esconder,
pega-pega, subir em árvores e roubar frutas do frondoso sítio do Dr. Morais Rêgo, balear indefesos passarinhos (coitadinhos!!!) com bodoques bem caprichosos na pontaria... tanta coisa que não volta mais e que
nunca se repetirá. Imagens que os wi-fis vão apagando das telas da vida e que
hoje são como um pano preto estirado em cada outdoor, nos quais se lê, sempre e
invariavelmente, a ordem do dia: “compre, compre, compre!”
Uma dia desses vi em um
outdoor a propaganda da Palavra. Aos
meus olhos, viciados em uma ideia fixa que não se apaga jamais, as letras
dançavam na formação do apelo “Compre Deus, compre Deus, compre Deus! Mas
compre em nossos templos, onde o produto não é pirata” (ou algum recado parecido). Meu Pai, etiquetaram-lhe
um preço; afixaram-Lhe um código de barras...não mais Lho crucificam: vendem-Lhe.
Mas, voltemos à conversa mole: estou visitando, hoje, um dileto amigo, em seu sítio
virtual. Sítio cujos frutos não têm sabor de goiaba, nem de pitanga, nem das romãs da casa de meu saudoso pai - outra caverna da meninice que vez por outra ilumino - porém causam-me igualmente um
prazer que retoma tempos nostálgicos, com cheiro de chuva e sabor de fruta madurinha, derrubada a vara.
Frutos deiscentes que vão ladeando estradas saudosas sobre as
quais caminho como quem experimenta, sôfrego, pela última vez, as
goiabas adocicadas da rua Jundiá, doçura da infância; da avó à janela, do
cágado paciente esquadrinhando cada centímetro daquela casa, que caminhava incansavelmente sem saber para onde nem porquê; da romãzeira paterna cujos frutos decoraram muitos natais.
No sítio do Eurico, estico os braços e colho o sabor do guaraná Fratelli-Vita, que os sais da Coca-Cola raptaram e esconderam, para sempre, sem dar a chance de um resgate porque não tem
dinheiro que pague a lembrança da garrafinha que trazia o sabor inigualável da gasosa de maçã. Sabor das tardes televisivas da Tupi, que uma grandona da mídia
também raptou e todo dia nos cobra o resgate, que temos de pagar em gotas de
suor e sangue derramados pela tela que a TV LCD vai derramando diariamente na sala das casas. E recomenda horário próprio para crianças a partir de qualquer
idade; qualquer idade é tempo de aprender com a violência, o impudor, a nudez
explícita, implícita na cegueira dos vigilantes sociais. O “Programa da tia Linda”, ao qual assistia deitado sobre a
mesa entalhada, de jacarandá, móveis sempre muito polidos que minha mãe mantinha como diploma de "dona-de-casa responsável e caprichosa", saudosa morada de Casa Amarela. As cadeiras, com assento e
encosto de couro, talvez ainda existam por aí. A casa ainda está lá, resiste ao tempo, remendada, renovada aqui e ali... mas nada me seduz como a via antes. Das doces lembranças, somente um velho jambeiro permanece no terreno, alto e altivo,
sentinela como que ainda esperando a minha volta àquela casa feliz.
Pensei
que nunca acabariam, esses sonhos. Assistia à TV deitado sobre a mesa de jacarandá. Minha mãe
vivia reclamando: “Menino, desce daí. Quem deita sobre a mesa é defunto”. Naquele tempo, velavam-se os mortos sobre a mesa da sala. Passei a
deitar sobre o assoalho, fresquinho, com cheiro de Pinho-Sol e cera Poliflor.
Assistia Rin-Tim-Tim e adorava a propaganda da laranjada Cliper, um casal de
indiozinhos muito simpáticos. À noite, tomava leite Cilpe e ia pra cama dormir, cedo; no outro dia, Dona Paula – uma mestra tão eficiente quanto elegante,
linda meio-senhora – me aguardava no grupo escolar Manoel Borba, prédio que chora seu abandono e me faz chorar quando avisto sua fachada, velhinha, decadente, esquecida. Paciente, cartilha de uma
capa verdinha nas mãos, D. Paulo ia apresentando as fichinhas perfuradas daquele livrinho verde para ensinar-me o BÊ-A-BÁ!!!
Nunca mais deitei sobre a mesa, mas já vi passarem em todas as salas de meu pensamento muitos defuntos. As velhas e saborosas propagandas, estas,
também, nunca mais as vi. Foram-se, com os mortos de minha vida. A querida mestra, D. Paula, também morreu, mas seu carinho ainda está bem vivo em cada texto que leio.
Visitar o sítio do amigo acendeu-me a chama das lembranças mais entranhadas,
coisas sobre as quais achei nunca mais reviveria. O tempo...o tempo é curto
para tudo...o semáforo passa rapidamente da cor vermelha para a verde e nos impele a uma onda automotora, de fumaça e buzinaço,
que vai seguindo em fila quem sabe para onde, como as formigas ou o paciente cágado da Jundiá.
O povo é gado, já disse um poeta! E suas palavras continuam ecoando per
omnia saecula saeculorum.
Despedi-me das recordações com o cuidado de guardá-las a
sete chaves e pra não esquecê-las jamais plantei sementes de letras neste
papel.
Queira Deus o semáforo apressado permita-me um tempinho para regá-las
todos os dias.
quarta-feira, 17 de julho de 2013
"Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar..."
A nação brasileira dá mostras de que um novo tempo se inaugura nestas plagas, uma nova mentalidade adolescente que acorda de longa letargia, ninada nefanda dos políticos de rapina que desde os primeiros anos do século 20 fortalecem uma oligarquia que vem engordando sob a proteção dos TRÊS PODERES. Essa nova face ideológica já recebeu dos intelectuais de plantão o apelido de "a revolução dos coxinhas" (que mania tem a inteligentsia gentio de rotular movimentos...), rotulando pejorativamente a opção de uma juventude que já escolheu o melhor para si. E este melhor não inclui o velho, que é esse estelionato político que se aboletou sobre nós, golpe inclemente que os caciques do poder aplicam sobre os eleitores, pobres mortais, diuturnamente.
Pois que cresça, sim, esta onda de "coxinhas", até fundar-se uma enorme padaria onde a fome do povo possa saciar-se também na saúde, na educação, na justiça social. Só não vale mais pizza!!!
E que sejamos nós, pernambucanos, O RUGIDO DO NORTE, cicerones deste novo tempo!!!!
Pois que cresça, sim, esta onda de "coxinhas", até fundar-se uma enorme padaria onde a fome do povo possa saciar-se também na saúde, na educação, na justiça social. Só não vale mais pizza!!!
E que sejamos nós, pernambucanos, O RUGIDO DO NORTE, cicerones deste novo tempo!!!!
(Publicado em DIÁRIO DE PERNAMBUCO - domingo, 07 julho 2013. Editorial, p.B-12).
O QUE VIRÁ DAÍ???
Há algumas semanas o país passou por alguma movimentação diferente, articulações às quais duas gerações não estão acostumadas a viver, nas ruas. Poderia citar "a ver nas ruas", mas prefiro a expressão a viver nas ruas, pois a experiência, como já sabemos, a arte do fazer, não nasce do copiar, mas do vivenciar. Explodi de alegria quando alguns sonoros "professor..." me buscavam, entre a multidão, para falar comigo. Simplesmente falar. Não agradeciam nada, não elogiavam nada, não insinuavam nada...apenas cumprimentavam. E sorriam, e abraçavam! Pronto, estava ali a alquimia das aulas, algumas vezes supostamente inócuas, a semente que joguei em alguns terrenos equivocadamente áridos, mas sob os quais descobri passar uma enxurrada de água pura capaz de germinar as mais simples palavras; capaz de transformar UTOPIA em AÇÃO E REALIZAÇÃO.
PENSAR, ESCREVER E VIVER...
"Os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente do livro do mundo.
No fundo, somente os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois somente eles são entendidos de modo autêntico e completo. Pensamentos alheios, lidos, são como sobras da refeição de outra pessoa, ou como as roupas deixadas por um hóspede da casa".
No fundo, somente os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois somente eles são entendidos de modo autêntico e completo. Pensamentos alheios, lidos, são como sobras da refeição de outra pessoa, ou como as roupas deixadas por um hóspede da casa".
(ARTUR SCHOPENHAUER, A Arte de Escrever)





